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Educação financeira: um passo essencial para envelhecer com dignidade

Envelhecer no Brasil é um processo que exige resiliência. E embora se…

Edson Moraes

20 de maio de 2025

Envelhecer no Brasil é um processo que exige resiliência.

E embora se fale muito sobre saúde física e emocional, pouco se discute sobre um dos pilares fundamentais para a autonomia na velhice: o dinheiro. Mais especificamente, o conhecimento sobre como administrá-lo.

A educação financeira, nesse contexto, é mais do que uma ferramenta de controle: é um instrumento de cuidado e de liberdade. Quando se envelhece com recursos escassos, cada decisão financeira conta. Por isso, compreender as próprias finanças torna-se uma questão de sobrevivência e dignidade.

Foi essa premissa que norteou o estudo de três pesquisadores das Universidades de Coimbra e Federal de Tocantins, que, em 2021, implementaram um programa de educação financeira voltado a idosos de baixa renda na periferia de Palmas (TO). O grupo era formado por pessoas com mais de 60 anos, com renda de até dois salários-mínimos. E os resultados foram impactantes.

Segundo os pesquisadores, os idosos “apropriaram-se de novos conhecimentos sobre planejamento e organização financeira” e “desenvolveram estratégias para organizar o orçamento doméstico buscando a redução do endividamento”.
Durante as oficinas, os participantes refletiram sobre renda, gastos, dívidas e planejamento. A fala de um dos participantes resume bem a realidade de muitos idosos brasileiros: “Eu recebo a minha aposentadoria e ainda não é o fim do mês e já não tenho nada”.

Ao longo dos encontros, conceitos como “dívida”, “compra por impulso” e “planejamento” foram desmistificados. Muitos passaram a registrar suas despesas, planejar as compras e dividir os custos com familiares. Uma senhora contou que costumava pagar todas as contas da casa sozinha. Depois do curso, passou a combinar com o filho que ele pagaria a luz e ela, a água. Isso pode parecer simples, mas é profundamente transformador. Representa a quebra de um ciclo em que o idoso se sente obrigado a sustentar os demais, seja por culpa ou por falta de informação.

Outro aspecto central foi o estímulo ao hábito de poupar. Sem prometer milagres de enriquecimento ou sugerir investimentos complexos, os facilitadores mostraram que guardar pequenas quantias pode fazer diferença em emergências ou até mesmo realizar um desejo com segurança. Um participante relatou que, antes, bastava ter um trocado para gastar com doces. Agora, o dinheiro vai para um cofrinho. E, de quebra, ajuda a controlar sua diabetes.

Há ainda a questão emocional envolvida na relação com o consumo. Muitos idosos relataram dificuldades em dizer “não” aos netos ou impulsividade na hora de comprar presentes. Com as oficinas, passaram a refletir: “Eu paro, penso e depois vejo se compro ou não. E não gasto tudo de uma vez. Só o necessário”.

Esse tipo de educação, centrada na escuta e na troca, é potente. Ela não infantiliza o idoso nem parte do pressuposto de que ele não sabe. Ao contrário, considera sua experiência de vida e oferece ferramentas práticas para lidar com um mercado cada vez mais agressivo, especialmente no que diz respeito a crédito consignado, vendas parceladas e ofertas enganosas.

O estudo confirma o que muitos já intuem: investir em educação financeira é investir em autonomia. E isso vale para todas as idades, mas tem um impacto ainda mais profundo quando oferecido a quem envelhece com poucos recursos, uma vez que nunca é tarde para fazer escolhas mais conscientes. E isso inclui a maneira como lidamos com o nosso dinheiro.

Mesmo com pouco, é possível fazer melhor.
Dignidade também se expressa na capacidade de decidir o que comprar e quando comprar. E se vale mesmo a pena comprar.

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